Hoje, ao ler uma crónica de Lobo Antunes, lembrei-me do tempo em que entravas em casa e me chamavas para te dar um beijo, ao que eu me escondia debaixo da cama para não ter de te beijar. Dizias-me então,«Vem cá ver o presente que o paizinho te trás no chapéu!»... E eu continuava debaixo da cama até o pó me entrar para o nariz e esfregá-lo até sangrar e, nessa altura, sentavas-me ao teu colo que eu dizia que me aleijava.
Hoje o teu colo não me magoa, falta-me. Queria receber-te com um abraço apertado e encher-te de beijos. Deixaria que me cobrisses tu também de beijos e mimos.
Lembras-te quando me vieste buscar de coche? levaste-me a passear por estradas entre montes com casas coloridas... Tanta cor e tanta luz...E estavas tão feliz... Tanto como eu fiquei ao ver-te... Não trocámos uma palavra, mas não foi preciso. Foi a última vez que estivemos juntos. A última vez que te vi. E é assim que te recordo sempre.
Hoje espero sentada na cama, que entres pela porta, me chames para te dar um beijo e ver a prenda que me trazes no chapéu. Já não me quero esconder debaixo da cama. Nunca mais.